Caracol ou Caramujo coreano? Experimentando um dos dois
Era quase
uma da manhã no café em Seul onde tomávamos uma água, quando o telefone do
Jinwoon tocou. Os coreanos não atendem telefone quando estão conosco, mas
insisti para que ele atendesse... "Era minha mãe. O restaurante que ela
gosta muito recebeu uma nova rodada de caramujo fresco, é um tipo que só cresce
em água extremamente limpa e é delicioso. Querem jantar amanhã?". Difícil
recusar um convite desses. Algo novo, diferente, e teoricamente delicioso. Marcamos
para a noite seguinte, às 18hs, próximo ao restaurante.
Afinal, caracol ou caramujo? Busquei no Google. No
Brasil usamos os dois nomes popularmente para animais de diversas famílias como
o escargot (comido na França,
benéfico) e outros extremamente venenosos. Na Coreia já havia comido a versão
saudável popular, o 골뱅이 (colbenhi), sempre em uma salada apimentada com cerveja ou soju para acompanhar. Eu adorava.
Como ele é
na vida real? Encontrei um vídeo mostrando o mesmo sendo aberto de sua concha: https://www.youtube.com/watch?v=QmA1M0wn5-Y
Além disso descobri uma banda coreana de rap dos anos
2000, chamada @ com uma música chamada 골뱅이. Não deixe de escutar, assistir um estrangeiro cantando rap em coreano
nos anos 2000 vale ouro. Pode-se dizer que um gringo aprendeu coreano quando
canta rap sobre o amor em uma banda com o nome @, no ápice da moda da internet,
na língua coreana. Pensando no assunto e no que nos esperava, dormimos. https://www.youtube.com/watch?v=iTcpFZh3SsQ
No dia seguinte, chegamos ao local, mas lá não se
vendia o dito cujo tradicional e sim uma outra espécie, bem mais clara -
branca. O nome popular em coreano é 백골뱅이 (péc-colbengi), onde péc vem do hanja
que significa branco, e colbengi... caracol ou caramujo, não importa. Pedimos
três variações dele: cru, grelhado e cozido em um ensopado.
Enquanto
comíamos, nosso amigo nos explicava que para alguns havia uma história de que o
nosso alimento da noite é um afrodisíaco. Pois é, a lenda (ou verdade?) de que
certos frutos do mar são afrodisíacos parece existir no mundo inteiro.
No menu,
todos eles são indicados como colbengis frescos. Primeiro chegou a variação
crua, fatiada, para ser comida por si só, com duas variações de molhos
apimentados ou somente enrolado na folha de gergelim e um pouco de mostarda
amarela:
Depois a
variação grelhada, tanto da parte principal quanto dos "miúdos" dele
(a parte escura). Acompanhando vieram cogumelos frescos, abóbora doce (lembra
que abóbora é um fruto?), cenoura, couve chinesa e, meu preferido, o 부추
(puchu, Allium_tuberosum, conhecido como cebolinha chinesa).
Por fim vem
o ensopado, agora com moluscos, macarrão, broto de feijão e uma pimenta bem
picante tipo jalapeño.
Ao sair do
restaurante, já cheios e felizes com a refeição e a experiência de comer algo
que mesmo na Coreia é difícil de encontrar - um colbengi fresco e branco, retribuímos o favor deixando o convite
para nosso amigo: que venha ao Brasil comer conosco um prato de farofa com
formiga, típico e também pouco conhecido no nosso próprio país.
Claro, na saída do restaurante tem o aquário com o que os clientes irão se alimentar, um costume que temos também em alguns restaurantes brasileiros de frutos do mar.
Texto: Guilherme Silveira
Revisão: Centro Cultural Coreano
Imagens: Guilherme Silveira
*Esse texto foi elaborado em sua totalidade
pelo Repórter Honorário da Cultura Coreana, não tendo ligação direta com a
opinião do Centro Cultural Coreano.
- Arquivo em anexo