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2ª parte da entrevista com Melissa Rubio, brasileira vencedora do primeiro prêmio do Concurso de Artigos do 3rd World Congress For Hallyu

29 Set 2016 | 727 Hit

Em Novembro de 2015, aconteceu a terceira edição do World Congress for Hallyu, organizado pelo World Association for Hallyu Studies, em Dubai. Este congresso acadêmico é internacional e tem o objetivo de expandir os estudos sobre o fenômeno cultural Hallyu através de uma abordagem multidisciplinar. Com edições anuais, o congresso promove o World Student Article Contest, um concurso de artigos de estudantes sobre Hallyu. Em 2015, a vitoriosa do Primeiro Prêmio com o artigo “Labyrinths of the body – Among scalpels and lines. Reflections and theories on the Korean Wave” foi Melissa Rubio, brasileira e Mestre em Letras pela UFRGS.

Esta é a segunda e última parte da entrevista inédita, feita com Melissa Rubio por mim, Daniela Mazur, Repórter Honorária da Cultura Coreana. A primeira parte está disponível no site do Centro Cultural Coreano no Brasil.


melissarubio

 

3)    A sua pesquisa aborda em especial a questão da cirurgia plástica na Coreia do Sul. Como iniciou seu interesse por este tema? E como foi seu contato com ele na Coreia?

Melissa: O interesse pela questão da cirurgia plástica na Coreia do Sul surgiu a partir da experiência estética que tive com a narrativa fílmica Time (Shigan) de Kim Ki Duk. Claro que eu já sabia que a prática de cirurgia plástica era algo recorrente no Japão, China e Coreia do Sul, pois tinha contato com os artefatos culturais contemporâneos desses países, tais como Cinema, Moda e Música. Porém, foi através da narrativa fílmica de Kim Ki Duk que nasceu a inquietação e o desejo de investigar a relação entre o olhar, a identidade e a construção de corpos no contexto da prática da cirurgia plástica. No ano de 2014, eu realizei durante seis meses a pesquisa de campo para a minha dissertação de Mestrado. A cirurgia plástica é vista e praticada como algo natural na Coreia do Sul, mas nunca banalizada como a mídia ocidental costuma apresentar quando fala sobre o tema. Os procedimentos cirúrgicos atuam no mundo simbólico dos sul-coreanos com uma ferramenta ou meio pelo qual os coreanos e as coreanas possam alcançar o poder e a autoestima, logo, alcançar a felicidade. Eu tive contato com coreanas que fizeram cirurgia plástica e escutei seus relatos e motivações, assim como também mergulhei em universo de anúncios publicitários pelos painéis nas estações de metrô, trem, pela rua, nas revistas e websites de clínicas de cirurgia plástica. Eu defino os procedimentos cirúrgicos não como uma construção que apague o rosto natural, mas sim como uma construção que revela o rosto que está escondido abaixo da camada de epiderme, sendo este rosto desvelado de algo que já pertencia a ele mesmo (o paciente). Ou seja, através da cirurgia plástica é possível desconstruir-construir um novo rosto.

 

4)    Por fim, qual é sua opinião sobre as pesquisas brasileiras do fenômeno Hallyu? E quais são os seus planos futuros como pesquisadora?

 

Melissa: As pesquisas brasileiras do fenômeno Hallyu têm se mostrado muito interessantes e bem elaboradas. Destaco dois pontos principais da pesquisa realizada no Brasil: a inovação e a pluralidade dos temas. Partindo do pressuposto de que o estudo sobre a Ásia não é tão popular e, muitas vezes enfrenta algumas barreiras, os pesquisadores de Hallyu e de Estudos Coreanos se desafiam e realizam suas pesquisas sobre obras, estéticas e imaginário da cultura sul-coreana, que não eram muito estudadas no campo acadêmico brasileiro. Sobre a pluralidade dos temas, as pesquisas brasileiras têm abordado amplo espectro de obras contemporâneas: a indústria do K-Pop, K-Dramas, Literatura sul-coreana e Cinema sul-coreano. Para o futuro, eu pretendo cursar o doutorado e prosseguir na área de Estudos Hallyu, realizando pesquisa no campo da Literatura Comparada com obras contemporâneas da Coreia do Sul e do Brasil, estabelecendo um diálogo intercultural e explorando os temas corpo, cirurgia plástica, olhar e identidade. Espero que os Estudos Hallyu tomem cada vez mais impulso no meio acadêmico brasileiro e que a cultura coreana e seu imaginário sejam difundidos através de novas obras literárias traduzidas para o português, divulgação de música contemporânea, Cinema e Artes Visuais.

 

Entrevista realizada em Janeiro de 2016.

 

 

Texto e entrevista: Daniela Mazur

Revisão: Centro Cultural Coreano

Imagens: Acervo pessoal da entrevistada.

*Esse texto foi elaborado em sua totalidade pelo Repórter Honorário da Cultura Coreana, não tendo ligação direta com a opinião do Centro Cultural Coreano.

Arquivo em anexo