2ª parte da entrevista com Melissa Rubio, brasileira vencedora do primeiro prêmio do Concurso de Artigos do 3rd World Congress For Hallyu
Em Novembro de 2015,
aconteceu a terceira edição do World Congress for Hallyu,
organizado pelo World Association for Hallyu Studies, em Dubai. Este congresso
acadêmico é internacional e tem o objetivo de expandir os estudos sobre o
fenômeno cultural Hallyu através de uma abordagem multidisciplinar. Com edições
anuais, o congresso promove o World Student Article Contest, um concurso de
artigos de estudantes sobre Hallyu. Em 2015, a vitoriosa do Primeiro Prêmio com
o artigo “Labyrinths of the body – Among scalpels and lines. Reflections and
theories on the Korean Wave” foi Melissa Rubio, brasileira e Mestre em Letras pela
UFRGS.
Esta é a segunda e última
parte da entrevista inédita, feita com Melissa Rubio por mim, Daniela Mazur, Repórter Honorária da Cultura Coreana. A primeira parte
está disponível no site do Centro Cultural Coreano no Brasil.
3)
A sua pesquisa aborda em
especial a questão da cirurgia plástica na Coreia do Sul. Como iniciou seu
interesse por este tema? E como foi seu contato com ele na Coreia?
Melissa: O interesse pela questão da cirurgia plástica na Coreia do Sul surgiu a
partir da experiência estética que tive com a narrativa fílmica Time (Shigan) de Kim Ki Duk. Claro que eu já sabia que a prática de
cirurgia plástica era algo recorrente no Japão, China e Coreia do Sul, pois
tinha contato com os artefatos culturais contemporâneos desses países, tais como
Cinema, Moda e Música. Porém, foi através da narrativa fílmica de Kim Ki Duk
que nasceu a inquietação e o desejo de investigar a relação entre o olhar, a
identidade e a construção de corpos no contexto da prática da cirurgia
plástica. No ano de 2014, eu realizei durante seis meses a pesquisa de campo
para a minha dissertação de Mestrado. A cirurgia plástica é vista e praticada
como algo natural na Coreia do Sul, mas nunca banalizada como a mídia ocidental
costuma apresentar quando fala sobre o tema. Os procedimentos cirúrgicos atuam
no mundo simbólico dos sul-coreanos com uma ferramenta ou meio pelo qual os
coreanos e as coreanas possam alcançar o poder e a autoestima, logo, alcançar a
felicidade. Eu tive contato com coreanas que fizeram cirurgia plástica e
escutei seus relatos e motivações, assim como também mergulhei em universo de
anúncios publicitários pelos painéis nas estações de metrô, trem, pela rua, nas
revistas e websites de clínicas de cirurgia plástica. Eu defino os
procedimentos cirúrgicos não como uma construção que apague o rosto natural,
mas sim como uma construção que revela o rosto que está escondido abaixo da
camada de epiderme, sendo este rosto desvelado de algo que já pertencia a ele
mesmo (o paciente). Ou seja, através da cirurgia plástica é possível
desconstruir-construir um novo rosto.
4)
Por fim, qual é sua opinião
sobre as pesquisas brasileiras do fenômeno Hallyu? E quais são os seus planos
futuros como pesquisadora?
Melissa: As pesquisas brasileiras do fenômeno Hallyu têm se mostrado muito
interessantes e bem elaboradas. Destaco dois pontos principais da pesquisa
realizada no Brasil: a inovação e a pluralidade dos temas. Partindo do
pressuposto de que o estudo sobre a Ásia não é tão popular e, muitas vezes
enfrenta algumas barreiras, os pesquisadores de Hallyu e de Estudos Coreanos se
desafiam e realizam suas pesquisas sobre obras, estéticas e imaginário da
cultura sul-coreana, que não eram muito estudadas no campo acadêmico
brasileiro. Sobre a pluralidade dos temas, as pesquisas brasileiras têm
abordado amplo espectro de obras contemporâneas: a indústria do K-Pop, K-Dramas,
Literatura sul-coreana e Cinema sul-coreano. Para o futuro, eu pretendo cursar
o doutorado e prosseguir na área de Estudos Hallyu, realizando pesquisa no
campo da Literatura Comparada com obras contemporâneas da Coreia do Sul e do
Brasil, estabelecendo um diálogo intercultural e explorando os temas corpo,
cirurgia plástica, olhar e identidade. Espero que os Estudos Hallyu tomem cada
vez mais impulso no meio acadêmico brasileiro e que a cultura coreana e seu
imaginário sejam difundidos através de novas obras literárias traduzidas para o
português, divulgação de música contemporânea, Cinema e Artes Visuais.
Entrevista
realizada em Janeiro de 2016.
Texto e entrevista: Daniela
Mazur
Revisão:
Centro Cultural Coreano
Imagens: Acervo pessoal da
entrevistada.
*Esse
texto foi elaborado em sua totalidade pelo Repórter Honorário da Cultura
Coreana, não tendo ligação direta com a opinião do Centro Cultural Coreano.
- Arquivo em anexo